Canções de Amor

A paternidade é muito intensa. Quando o filho nasce, o pai ainda não nasceu. O trabalho de parto do pai dura mais. Bem mais. Tem estranhamento, caída de ficha, embrulho no estômago, confusão de sentimento, negação, reflexão, aceitação… Mudança.

A posição de pai é multidimensional e quando em vez, ambígua. Mas nessa posição ímpar, nos sentimos à vontade pra lamber a cria, sem se descuidar do lobo que está à espreita, é claro. Quem pode amar sem preocupação são os avós (quem me dera – tô doido pra chegar a minha vez e botar uns meninos a perder…).

Pois bem. Sem mais delongas.

Há momentos em que conseguimos amar os nossos filhos sem limite, sem pudor, sem constrangimento. Viver e não ter a vergonha de ser feliz.

Por exemplo, quem resiste a ver um bebezinho e não falar nenenhês?

Pois num desses momentos, eu que desafino em parabêns e atravesso o ritmo das palmas, compus uma música pro meu pequeno.

Cuidado a partir daqui. Não suba muito a expectativa. Desnecessário dizer que não sou nenhum Gil, Caetano ou Chico, mas vou deixar por escrito a ressalva. Por precaução mesmo.

Eu sou apenas um mortal. Então bolar uma estrofezinha temática, como rima e ritmo foi uma experiência transcendental pra mim. Nunca havia acontecido. E temo que seja espetáculo de exibição única.

Mas antes de falar de minha musiquinha, hemos de voltar no tempo pra registar que, logo no seu nascimento, a estrela do pequeno JL não brilhou apenas sobre o céu da cidade serrana que abriga o gigante desperto, conhecido pelos amantes como Tricolor e pelos temerosos adversários como: O Tremendão da Serra!

Não, a estrela do nosso herói de outras aventuras brilhou também no coração de Lenita Cunha. Uma mulher que, dentre outros predicados, é escritora e não tem a retina fatigada pelo tempo.

E logo nos primeiros dias de vida de João Luiz fomos brindados pelo carinho antigo transformado em versos de louvor e bem aventurança pela chegada do nosso rebento.

A seguir apresento a estrofe singela, divertida e amorosa. A música está executada por Rodrigo Graça em arranjo autoral.

Veja nesse clipe massa que André Ágassi fez a pedido de Lillian.

Em seguida conto a história de minha música.

Lillian sempre teve mais receio de cuidar de João Luiz pequeno. Ficava com medo de quebrar. Então eu assumi trato de banho, limpeza de fralda e higienização de “imbigo”. O banho foi uma novela à parte. O choro era tão certo quanto o amanhecer do dia. Somente depois eu vim saber que Geiza dava banho em Bia molhando primeiro a água com a roupinha e ela ficava toda concha porque não sentia frio. Aqui eu temperava a água e escaldava o menino. Se fosse pra desequilibrar, seria água fria porque eu não podia correr o risco de queimá-lo.

E depois de muita luta eu passei a banhá-lo no chuveiro. Para que não escorresse água pelo seu rosto e evitasse aquela sensação de afogamento, Lillian arranjou um chapeuzinho azul vazado. Funcionava como uma viseira e ficava com o cocuruto à mostra.

Acho que foi ela que passou a nominá-lo de “o chapéu do capitão do banho”. Daí nasceram esses versos que são um clássico universal (do meu banheiro) do cancioneiro popular moderno. Ah. E lembrando minha juventude, é um Axé. Sempre imagino as crianças cantando a plenos pulmões enquanto o trio do Baby Beijos dá a volta no calçadão.

Respeitável públicoooooo. Com vocêêêês: Capitão do banhoooo!

Chegou. Chegou (chegou, chegou)

O Capitão do banho chegou

Chegou. Chegou (chegou, chegou)

O Capitão do banho chegou

Vai, vai, vai!

Chegou para animar a festa

Chegou pra te fazer sorrir

Chegou para limpar a sujeiraaaa

Chegou para dar banho em João Luiiiiz

Pãrãrãrã

Um pequeno passo para a humanidade, mas um grande avanço para um analfabeto musical.

Coisa que só o amor sublime proporciona.

Às vezes me pego pensando: como é que em um dia um estou embevecido de amor e no outro eu quero chacoalhar o menino pelo pescoço, enquanto explico o dever de casa?

Como disse no começo, paternidade tem suas ambiguidades.

Amo você, filho!