A comemoração dos 6 anos de vida de João Luiz foi intensa e memorável. Por isso, uma passagem ficará escrita para que suas nuances não se percam no tempo.
Seguindo recomendação do amigo Jorge Inácio, percebemos que o passeio ao Beach Park seria uma ótima opção para celebrarmos em família o momento especial. As dicas de Fortaleza ficaram por conta de Jéssica, filha de tia Bia, prima de Ricardo, sócio de Lillian…o fi de Elisabeth…(no interior só se conhece o povo assim).
O avião partiu de Salvador, porque Aracaju estava com preços extorsivos e inviáveis a um casal de trabalhadores. Tranquilo, pensei. Sairíamos cedo e deslizaríamos pela linha verde sem trânsito.
Mas nenhum plano resiste ao campo de batalha. No dia caía uma chuva torrencial daquelas que deixavam vários pontos de aquaplanagem na pista, a visibilidade sensivelmente diminuída e o trânsito mais lento e tenso.
Tudo bem. Tudo bem. Saímos bem cedo para contornar imprevistos, mas no meio do caminho, João Luiz, que nunca havia vomitado em viagens, não só vomitou, como sujou o lençol, o carro e o próprio pai.
Pois é. Eu fiquei com aquele cheirinho remanescente de azedo o resto do dia, que estava só começando… E ele ainda vomitou umas 6 vezes até chegar ao aeroporto. As bolsas de plástico já haviam acabado no carro. Se demorasse mais, o menino teria que ir pendurado na janela, tomando chuva na cara.
Mas chegando em Fortaleza, tudo mudou. O passeio foi divertidíssimo. 100% direcionado ao aniversariante. E o Beach Park seria o evento culminante, no último dia de viagem. Enquanto isso teve direito peça de teatro do Roblox, visita ao Museu da Imagem e do Som, banho de mar, passeio de bicicleta na orla (com direito a pneu furado), iniciação ao junk food em lanchonete de rede, sorvete, caminhada na orla (com direito a comprar brinquedinho na feira de artesanato), piscina todos os dias, visita a 3 shoppings, refeição em food park, bolo de aniversário surpresa no café da manhã…uma festa. Foi massa demais!
E um dos pontos altos da viagem aconteceu no dia em que fomos no Bar do Chico do Caranguejo. Entramos no Uber para ir à unidade da Praia do Futuro, mas o motorista informou que outra unidade possuía brinquedos melhores na piscina. “Se é assim, toque pra lá!”. Arrependi-me amargamente, foi uma viagem de 50 minutos em que meu rebento se entediou e reclamou com vontade. Também pudera. Quando fui me dar conta, o bar era em outra cidade – na região metropolitana (Aquiraz).
Cheguei com a cabeça fervendo. Mas, de fato, os brinquedos foram ótimos. Era um pequeno parque aquático. A estrutura do bar, coisa de cinema. Uma atração à parte. (Não falemos de preços). Esse foi um dos dias mais divertidos, sem dúvida.
E depois de tantos arrodeios e contextualizações, chegamos ao momento digno de registro. Sabe aquelas máquinas de tomar dinheiro de besta? Aqueeeeelas que costumam ficar em shopping com ursinho de pelúcia? Pois então. Tinha uma lá. De frente com a entrada. Foi a primeira coisa que JL viu. Todavia, eu e Lillian puxamos direto pra piscina no melhor estilo “na volta a gente compra”.
Só que em dado momento, nós já estávamos tão satisfeitos e o preço da máquina tão convidativo (apenas 2 contos de réis – no crédito), que topei fazer uma doação ao “pobre” do Chico do Caranguejo em troca do direito de sonhar por intensos 30 segundos.
Aquilo ali é que nem a megasena. Você joga sabendo que vai perder, mas é tão bom pensar que vai ganhar, que você já faz até a conta de como vai gastar.
Pois bem. Voltemos à cena do crime. Carreguei 4 reais. 2 jogadas. João Luiz já tinha tentado em outros lugares, mas tradicionalmente, a pretexto de aumentar a chance de sucesso, quem sempre comandou o botão foi Lillian. João Luiz e eu ficávamos sempre na torcida. No fatídico dia, porém, JL pediu para jogar ele próprio. Era aniversário do rapazinho… Lillian cedeu.
O menino segurou o direcional e a contagem regressiva de 30 segundos disparou. JL e Lillian começaram a debater qual pelúcia tentaríam pegar e, na falta de consenso, 15 segundos se passaram.
Intervi: o tempo vai acabar, papai. Decida!
Lillian: pegue aquele: o peixinho listrado…
JL: eu não quero aquele…
10 segundos…
EU: JL DECIDA O QUE VC QUER E TENTE PORQUE VAI ACABAR O TEMPO!
JL: Eu quero o Dino!
Lillian: Mas o Dino tá preso colado na parede…
JL: Mas eu quero o Dino!
EU: vá meu filho, vai acabar…
5 segundos.
Botão!
Pãããããããã (onomatopeia para indicar a descida do gancho).
Pegou! Respirações cessaram. A bola do mundo parou de girar. A dimensão tempo e espaço não existia mais, somente nos 3 diante daquela máquina cruel que costuma roubar nossas últimas esperanças de criança, quando solta o bichinho bem do alto.
Nesse clima de tensão, surpreendentemente o gancho foi levando o Dino até o alçapão e no último momento…caiu.
Dentro!!!
Ganhamos!
O grito irrompeu dos nossos peitos tal qual na copa de 94: éééééééé!!!! É tetraaaaaa! Tudo nosso!!! Perdeu Chico do Caranguejo! Aqui é Itabaiana, papai!!!
O parque parou para ver o acontecimento. As pessoas riam empáticas com a nossa felicidade.
Nos abraçamos! Pulamos! Sorrimos! Gritamos!
Enquanto eu abaixei para pegar o Dino, o turbilhão de pensamentos invadiu minha mente como um download de informações que chegam num átimo de segundo: “que incrível, ele ganhou na primeira tentativa. Que massa, ele insistiu no que queria, mesmo ao arrepio das opiniões e fez o que seu coração mandava – e venceu! É isso. “Sem saber que era impossível, foi lá e fez”.
Nesse momento, Xuxa já cantava em segundo plano em minha mente: “tudo que eu quiser, eu vou tentar melhor do que já fiz/esteja o meu destino onde estiver/eu vou tentar a sorte e ser feliiii iz.”
Que massa! Depois Lillian tentou a segunda chance e perdeu fragorosamente. Em ato contínuo, recebeu instruções de JL que, de forma generosa, se dignou a explicar os segredos de um profissional de sucesso. Afinal, ele tinha 100% aproveitamento na vida todaaa…
Voltamos para o hotel e, a partir de então, o Dino foi o quarto elemento do nosso grupo. Fazia tudo conosco: passeios, refeições, desenhos, conversas. E até dormia todos os dias na cama com JL. O Dino dominou as atenções e foi a um só tempo companhia e troféu.
Já no hotel eu perguntei: filho, porque você quis pegar o Dino?
Ele respondeu sem titubear: Em homenagem a Flávio Dino, papai.
(Tá bom, esse último diálogo não existiu, mas ficaria massa, né?)
Enfim…Foi tudo maravilhoso. A parte turística que conhecemos de Fortaleza foi uma grata surpresa. Findos os dias de viagem e esgotada a programação, era hora de retornar à vida real, com a barriga mais cheia e o bolso mais vazio.
Pelo menos a viagem de volta não teve percalço, pois cuidei de JL com vonau para o avião e o dramin para o carro. Assim que chegou em Salvador, o menino estava bom todo. Conversador virado na preta do leite. Nem sinal da capa da cangaia que havia chegado na terra de todos os santos na viagem de ida.
Entramos no carro e ainda antes de fechar a minha porta, JL irrompe rápido e cortante, “como peixeira de baiano”: Mamãe cadê meu Dino?!
Suspense. A cena congelou. Parecia o encerramento de Avenida Brasil. E no caso, Lillian era a própria Carminha.
A vilã: tá na mala, meu filho.
JL: pegue lá.
Eu, antevendo o perigo: não dá não JL. Tá tudo apertado. Em Itabaiana você pega.
O clima de tensão estava instaurado. Depois de uma hora de viagem eu já estava novamente na linha verde curtindo a música e dirigindo de volta pro meu aconchego, quando Lillian percebe que JL estava em sono profundo e dispara:
– André, já olhei nas 3 mochilas de mão. Não está lá.
– Calma filha, vai estar nas malas grandes.
– Acho difícil porque eu só coloquei roupa nas malas…eu peguei tudo que estava na minha vista. Só se o Dino ficou enrolado nos lençois e eu não vi.
Agora trincou na emenda! A angústia voltou pra mim. Ansiei por chegar em Itabaiana. Mas Lillian pediu para ir ao banheiro naquele tradicional posto de Estância. JL acompanhou e eu saí do carro, mais desconfiado que ladrão, dizendo que ia ficar por ali só esticando as pernas.
Nem bem o vulto deles ganhou o corredor e quem correu fui eu pra abrir as malas. Abri as 3. Espalhei as roupas e…
NADA!
Meu mundo caiu. E agora? Perdemos o Dino. Tão simbólico da vitória das próprias escolhas. Tão emblemático da viagem. Tão companheiro de bons momentos…E agora?
Nem tive coragem de dizer a Lillian na viagem. Ela já não tinha unhas em Estância, chegaria sem os dedos em Itabaiana.
Felizmente João Luiz dormiu na casa de vovó Diana e esqueceu de perguntar do Dino.
Em casa, ao confirmar a perda, Lillian tinha um plano. Já havia entrado em contato com o hotel e informado o ocorrido. Contou a história e mandou foto para sensibilizar os trabalhadores da causa. O pessoal do Sonata ficou de perguntar para a camareira.
E no outro dia…a resposta:
Sim. O Dino havia ficado.
Mas pelo menos já estava localizado. Agora era viabilizar o traslado do meliante. Lillian pensou em pedir ao hotel que enviassem pelos correios – de sedex, antes que o menino perguntasse novamente. Mas havia o custo e o risco de novo extravio. Aquilo era valioso demais.
Enquanto isso, chegou o dia temido. João Luiz perguntou: papai, cadê meu Dino?
Eu e Paula nos entreolhamos de olhos esbugalhados, mas felizmente eu já havia preparado a resposta que estava na ponta da língua: pergunta a sua mãe, meu filho, foi ela quem desarrumou as malas…
No outro dia: Mamãe, cadê meu Dino?
Lillian, que também já estava com a resposta pronta, apresentou a solução junto com o problema: JL, seu Dino ficou em Fortaleza enrolado no lençol do quarto, mas mamãe vai dar um jeito e seu Dino chega semana que vem.
A notícia tomou ele tão de surpresa que não houve maiores reações. Se por um lado ele tinha perdido, por outro já havia recuperado e era questão de tempo até a “velha” parceria ser refeita.
Pois bem. Lillian contou a história a Jéssica (filha de Tia Bia, prima de Ricardo, sócio de Lillian…o fi de Elisabeth). E Jéssica, que desde o primeiro momento de planejamento de nossa aventura se desvelou em atenção e presteza, informou que o marido iria a um congresso em um hotel de Iracema e poderia resgatar o meliante de pelúcia. E melhor, na próxima semana, eles viriam a Sergipe e trariam o Dino para finalmente conhecer sua nova casa.
Assim foi feito. Deu tão certo que o congresso era no auditório do próprio Sonata de Iracema. Nosso passeio foi em Santo Antônio e o Dino chegou entre o São João e o São Pedro.
Ao sabermos que ele já estava em terras sergipanas, partimos imediatamente (somente eu e Lillian) para casa de Suzy e recebemos nosso troféu das mãos de Neirivaldo.
Chegamos em casa e fizemos uma surpresa para João Luiz. Lillian escondeu o Dino nas costas e pediu para que ele adivinhasse.
Ele errou. Nem imaginava. Quando viu o Dino, fez cara de indiferente e, dez segundos depois, desaguou em lágrimas. Nem deu bola pra o Dino.
Ficamos sem entender.
Mas o choro não cessava e depois de muito pranto, Lillian conseguiu conversar e João Luiz disse que estava chateado com o Dino. O choro foi a represa de emoções que explodiu dentro do peito do nosso pequeno.
Depois de um banho quente e um carinho de mãe, JL decidiu “dar uma chance ao Dino”. Dormiram juntos e a amizade foi refeita. Final feliz.
Ao fim dessa história de diversão, aventura, suspense, drama e superação, baseada em fatos reais, registramos nosso mais sincero agradecimento a Jéssica (vocês já sabem que é). Minha família abraça sua família.
E a moral da história é: “lute como uma mãe”. Lillian conseguiu a redenção, nessa verdadeira jornada do herói.
Assim termina o relato de nossa passagem memorável por Fortaleza.
Que venham as próximas comemorações de sua linda vida, meu filho amado. Você é a luz dos nossos olhos.
Itabaiana, 03 de julho de 2023
Assinado, o pai da criança.











